LUIZ ANTÔNIO MILLECCO, PELO ESPÍRITO DELFOS,
DO LIVRO REFLEXÕES NO MEU ALÉM DE FORA,
SOCIEDADE EDITORA ESPIRITUALISTA F. V. LORENZ,
RIO DE JANEIRO, RJ, 2001.
Sugeriram-me alguns amigos que trouxesse para estas páginas ideias acerca
dos velórios que se realizam no mundo, embora na Terra já se tenha escrito o
suficiente a respeito do assunto. Creio que nunca será demais contribuir com
algumas ideias e sugestões, embora modestas.
Existem vários tipos de velórios na Terra – os velórios-divertimentos, os
velórios-tribunais e os velórios-preces. Nos velórios-divertimentos participam
aqueles que se horrorizam diante da morte e fogem dela como antigamente se
supunha que o “diabo” fugia da cruz. Estes falam sobre tudo: o carro do ano, a
novela da televisão, o político mais destacado na área dos escândalos nacionais e
internacionais, a Bolsa, a situação econômica do País, as confusões da vizinhança.
Tudo serve de pretexto para que a ideia da morte seja evitada e todos se esqueçam
de que estão diante de um cadáver.
Nos velórios-tribunais permanecem as pessoas que se arvoram m juízes dos
que se foram. Estas comentam discretamente as pequenas e as grandes faltas do
“falecido”, embora procurem, muitas vezes, atenuar o fel de sua crítica com o mel
de sua hipocrisia.
Amigo! Como participas dos velórios? Se és juiz, sabes que com teus
pensamentos agravas imensamente os males de quem já se vê a braços com sua
própria consciência e mal pode suportar esses momentos solenes e difíceis. Se és
um trânsfuga da morte, fica sabendo que teus pensamentos heterogêneos, não
raro, tornam difícil a situação dos que se vão. Eles se sentem como que acoimados
por vibrações contraditórias e lhes produzir no corpo sutil os mais variados e
desagradáveis choques.
Se participas dos velórios-orações, aí sim, prestas enorme serviço ao teu
amigo ou ao teu parente que se foi. Dás a ele o alimento, o remédio, o conforto de
que ele necessita para essa hora. Além disso, tu ajudas a transpor a difícil barreira
entre o mundo físico e o mundo suprafísico, entre a carne e o espírito, entre o hoje
e o amanhã.
Os velórios-preces são compostos por aqueles que levam a sério esses
momentos. Nada temem da morte ou de si mesmos. Não fogem à realidade, mas
permanecem contritos e silenciosos diante dela ajudando ao que se vai,
solidarizando-se com ele, sustentando-o com suas vibrações.
Quando cheguei, encontrei paisagens tranquilas e amenas que me
reconfortaram e me renovaram por dentro.
Quando cheguei, encontrei cariciosas vibrações de amor semelhantes às que
tinham me acompanhado na Terra na hora da partida.
Quando cheguei, encontrei como que a mesma Terra que eu havia deixado,
todavia, em dimensão diferente, sutil, e porque não dizer, bem melhorada.
No entanto, nada disso chegou a surpreender-me por completo. Eu já tinha
algumas noções do mundo astral e dele me haviam falado amigos que me visitaram
nos últimos dias de minha vida terrena.
O que me surpreendeu acima de tudo, foi encontrar-me a mim mesmo
quando cheguei. Nuances de mim mesmo que eu não havia percebido; arestas de
mim mesmo que eu não havia aparado, e também áreas luminosas de mim mesmo
que eu não havia percebido.
Tudo isso emergiu de dentro de mim. Tudo isso me fez viver momentos de
purgatório, inferno e céu. Tudo isso me disse sem palavras do quanto havia sido
feito, do quanto havia sido deixado para trás e do quanto havia ainda a fazer.
Ignoto amigo, busca encontrar a ti mesmo, hoje, aí e agora. Busca a
comunhão contigo e com Deus que está dentro de ti. Atravessa desde já os teus
purgatórios. Transita pelos teus infernos e pelos teus céus, e milhares de
obstáculos serão afastados dos teus passos, quando houverdes chegado.
Sabe e compreende, desde já, que tu, e só tu, és o supremo artífice de teus
dias e de tuas horas. Compreende e sabe, desde já, que tua história é construída
por tu mesmo, dia a dia, minuto a minuto. Aprende a cortar o caminho e chegarás
mais depressa.
Aprende a limpar a estrada e teus pés não chegarão aqui sujos da poeira do
solo.
Aprende a contemplar a ti mesmo e saberás remover empecilhos e não te
envergonharás de ti quando chegardes.