VINÍCIUS, NAS PEGADAS DO MESTRE, FEB, 1995.
Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho; e aquele a quem o Filho
o quiser revelar. Vinde a mim todos vós que andais em trabalho, e vos achais oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas
almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.;
(Evangelho.)
Jesus acha-se de posse da suprema graça. Frui o sumo bem, e sente em si a plenitude da força onipotente, que emana de Deus. Sua íntima e perfeita comunhão com o Pai torna-o participante dos divinos atributos. Em tais condições, um desejo ardente domina seu amorável coração: tornar os homens tais como ele é, fazê-los co-herdeiros, com ele, da paterna herança.
Daí o chamado: Vinde a mim todos vós que vos achais em trabalho, oprimidos, e eu vos aliviarei.
Todos os males que nos afetam têm origem na falta de comunhão com Deus.
Consequentemente, tudo que nos causa aflições, mágoas e sofrimentos, resolver-se-á como que por encanto, mediante o estabelecimento de nossas relações com a Divindade.
Da harmonia com o Infinito depende todo o nosso bem. Convém notar que esta asserção é isenta de fantasmagoria e de ideias supersticiosas. Não se trata de milagre, mas defeito positivo duma lei natural.
Estar com Deus importa em obedecer às leis que regem os destinos da Vida, seja qual for o cenário onde essa Vida se ostente.
A lei por excelência, da qual decorrem as demais, como simples modalidades, é o Amor. Quem está fora do amor destrói sua comunhão com Deus,
quebra, na parte que lhe toca, a harmonia da vida universal.
O chamamento de Jesus — vinde a mim; — é o apelo do amor. É a aspiração duma alma, transbordante desse sentimento, que anseia por comunicá-lo a outrem. O vinde a mim; significa, portanto, ide a vós, ide uns aos outros, amai-vos mutuamente.
Por mais paradoxal que esta interpretação possa parecer, ela é, contudo, a expressão da verdade. Jesus, chamando-nos a si, pretende lançar-nos nos braços, uns dos outros, irmanando nossos ideais, fundindo nossos espíritos numa unidade.
A vida terrena é cheia de asperezas e amarguras, porque os homens vivem divorciados do amor. Não procedem como irmãos, mas, antes, como adversários cujo interesse está em se destruírem reciprocamente.
O caminho para irmos a Jesus é um só, e consiste, como já ficou dito, em irmos uns aos outros, em vazarmos, uns nos corações dos outros, nossas mágoas e nossas aflições. Enquanto permanecermos em atitude reservada, cheios de desconfianças, vendo em cada irmão nosso um competidor a aniquilar, ou um inimigo a vencer, havemos de suportar os males que nos afligem e perseguem
desapiedadamente.
A pedra de tropeço que nos embarga o passo, conservando-nos distanciados do Senhor, é o orgulho. O orgulho é uma das formas mais funestas assumidas pelo egoísmo.
Por isso, o Mensageiro do amor, o inigualável Médico das almas, que conhece a fundo todas as particularidades de nosso ser, oferece o remédio de que carecemos: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para vossas almas.
Noutras palavras: Combatei o orgulho, cultivando a humildade, e achareis pronta solução para todos os problemas que vos afetam.
O orgulho é o fardo pesado, o jugo férreo, que confrange os corações. O amor, pelo contrário, é o peso leve, é o jugo suave que encanta, que inebria o Espírito, despertando nele as mais doces e ternas vibrações.